#Club&Casa Home – Entrevista com Pedro Franco: a cultura e a tecnologia nacionais como diferenciais competitivos no mercado global
Focado na valorização do espírito brasileiroem suas obras, o designer busca a união entre o artesanal e o tecnológico. Confira entrevista na íntegra!
Texto: Angela Villarrubia
Fotos: Marco Antonio/Divulgação
Pedro Franco tem uma dessas carreiras que já começam singulares: no ano 2000, antes mesmo de se formar (em arquitetura, diga-se), foi premiado no concurso Brasil Faz Design, que levou as peças contempladas a uma exposição homônima durante a Semana de Design de Milão.
A sua poltrona Orbital, feita com três câmeras de ar dentro de um saco de lycra, chamou a atenção de Vanni Pasca, especialista em história do design, e acabou na capa do seu livro “Scenari del Giovane Design”, como um sopro de ar fresco. De lá para cá, ele participou de todas as edições da mencionada semana, seja no chamado Fuorisalone, no Salão Satélite (para jovens talentos, por três anos consecutivos) ou ainda no próprio Salão do Móvel, hub do maior evento do gênero no planeta.
Pedro chegou a atuar com arquitetura e interiores, o que o levou a criar a A Lot Of em 2004, justamente para suprir seus trabalhos com mobiliário. Já dedicado exclusivamente ao design, uma mudança de con – ceito, porém, revolucionaria seu mundo: estabeleceu que a sua empresa teria como base a valorização do espírito brasileiro. Mas isso ocorreu, em grande parte, sob o olhar estrangeiro. Assim, convidou estrelas do calibre de Alessandro Mendini, Studio Pininfarina, Karim Rashid, Nika Zupanc e Fabio Novembre, além dos paulistas Irmãos Campana, entre outros, para dar vida a novos produtos.
Com essa filosofia na manga, submeteu a A Lot Of Brasil (já com o nome expandido) à curadoria do Salão do Móvel de Milão e foi admitido, em 2015, para expor no aclamado pavilhão 20, ao lado de grandes marcas internacionais. A cultura regional tem embebido suas coleções, com imersões no Cariri, no Jalapão e na Bahia, por exemplo. A busca pela ancestralidade resulta em peças insólitas, que unem o conhecimento dos artesãos à tecnologia de ponta. Pedro abraça o termo “glocalidade” (global + local) para expressar a ideia de um produto nacional, mas que cabe em qualquer lugar do mundo. “Antes, eu era guiado pela matéria-prima. Hoje, pelo pensamento”, admite Pedro, que durante a pandemia fez pós-graduação em filosofia pela PUC-SP.
Antes deste período, ele havia viajado pelo País e conhecido mestres de ofício que trabalham de formas diferentes. “O Brasil tem mais competitividade se pensarmos de forma plural, explorando seus recursos. Eu reaprendi a trocar com essas pessoas. O meu diferencial está nas minhas raízes”, enfatiza, ao defender que o artesanato e a tecnologia nacional devem andar de mãos dadas. “Isso gera inserção para um trabalho que é importante para a nossa memória; para o designer, provoca uma série de inputs e possibilidades criativas; para a indústria, gera competitividade”, finaliza.