#Club&Casa Home – Entrevista com Luis Pons: “Sou latino-americano e vejo o Brasil como os outros enxergam os Estados Unidos ou a Europa”
“O design venezuelano conta como a transformação da matéria inspira a reinterpretação do seu momento presente por meio do design.
Texto: Angela Villarrubia
Fotos: divulgação
Um habitué do Brasil desde 2013, quando desembarcou como profissional do ano pelo BOOMSPDESIGN, o arquiteto, designer e artista conceitual venezuelano Luis Pons nunca mais parou de retornar. Radicado em Miami desde 2002, este profissional multitarefa – reconhecido pelos seus projetos para hotéis de luxo, casas suntuosas e instalações artísticas – exibe seu amplo conhecimento sobre a cultura local ao mencionar nomes como os dos mestres Joaquim Tenreiro, Sergio Rodrigues, Oscar Niemeyer, Jorge Zalszupin e Giuseppe Scapinelli, que “transformaram e interpretaram a modernidade de forma autêntica e original”, sem esquecer de citar os contemporâneos irmãos Campana. Na sua opinião, o país é um ponto de partida para entender como se deve refletir a realidade local – e não a de outros contextos culturais. “Sou latino-americano e vejo o Brasil como os outros enxergam os Estados Unidos ou a Europa. Para mim, o design brasileiro vem das entranhas do mundo que o cerca”, analisa o profissional.
Filho de arquiteto e de galerista de design escandinavo, Luis Pons teve a paixão pelo setor despertada ainda na infância. “Desenho desde pequeno. Em vez de brincar com coisas compradas, transformava os objetos cotidianos e concebia meus próprios jogos. Sempre usava o que estava disponível para criar espaços, maquetes e repensar móveis. Estava interessado em montar e compor”, confessa. A transformação da matéria o inspira, pois possibilita a reinterpretação do seu momento presente por meio do design.
Seu mapa de experiências é revelado pelos objetos ideados ou pela metamorfose dos espaços. Para ele, cada material tem a sua magia e beleza, mas a escolha depende do contexto, dos recursos e da tradição de cada lugar para determinar o mais adequado. Madeira, pedra, metal, vidro ou cerâmica – tudo tem cabida em seu trabalho. No nosso país, ele já desenvolveu linhas para a St. James e Vermeil. Atualmente, trabalha em uma coleção de cerâmicas para a Casa Bonita (na capa desta revista, Pons exibe o protótipo de um sistema de vasos que, segundo ele, “permite centenas de configurações”), assim como tapetes, papel de parede e louças metálicas.
Um momento marcante na sua vida foi a mudança para os Estados Unido: para conquistar um visto por talento especial, teve que entrar com um pedido na categoria de “designer/artista” e preparar um portfólio, ou seja, a soma de todas as publicações e os artigos a seu respeito, em seis meses. Como tudo o que tinha era sobre arquitetura, arregaçou as mangas e perguntou aos clientes se queriam móveis e peças originais a custo zero, desde que pudesse divulgá-las e expor os protótipos – que acabaram na Semana de Design de Milão e na feira ICFF, em Nova Iorque.
Decorrido meio ano, somava mais de 200 páginas publicadas, entre artigos, entrevistas e publicidade, o que o levou a conquistar seu visto. “É nos momentos de crise, e por necessidade, que surgem as propostas criativas mais fortes. Do conforto, só resta o lazer; é nessas zonas de mudança absoluta que nos expandimos e quebramos os padrões, dando passagem para criar coisas que podem nos transcender”, finaliza o profissional.
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