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#Club&Casa Home – Em entrevista, Paulo Alves fala sobre a importância da sustentabilidade no design e sua admiração por Lina Bo Bardi

“O design está aí para resolver os problemas de forma única, com o que se tem por perto”, observa o profissional, que dedica seu talento ao design e à arquitetura.

Texto: Angela Villarrubia

Fotos: divulgação

A busca pela simplificação das formas permeia o Bufê Cercadinho, que, visualmente, parece ter apenas dois elementos: um plano que se desdobra em ângulos retos desde um pé até chegar ao outro, e a madeira das portas.

Acompanhar as construções da vizinhança era uma das diversões do menino Paulo Alves, nascido em Jardinópolis (interior de SP), assim como as aulas de marcenaria em uma escola do SESI. Afinal, a oficina era o lugar de concretizar ideias mais acessíveis do que a execução de uma casa. Com a mente efervescente, acabou cursando arquitetura na USP de São Carlos – foi o primeiro da família com um título universitário –, e, na sequência, mudou-se para a capital paulista em busca de um trabalho nesse setor.

Em janeiro de 2002 bateu à porta de Lina Bo Bardi, em um Palácio das Indústrias em pleno restauro (é o atual Museu Catavento Cultural). “Ela costumava montar seu escritório nos canteiros de obras”, esclarece. Vale dizer que um de seus professores era Marcelo Suziki, um dos três mosqueteiros da arquiteta, ao lado de André Vainer e Marcelo Ferraz. Não chegou a conviver com ela, pois já estava adoentada naquele então, mas sua admiração pela profissional é clara.

Tanto que criou uma poltrona em sua homenagem – Paulo estava sentado nessa peça enquanto concedia a entrevista. “Era uma arquiteta importantíssima que, ao mesmo tempo, tinha um olhar para o popular, que era a minha origem. Foi isso o que me encantou”, explica, ao citar dois aspectos de Lina que o influenciaram e são fundamentais no seu trabalho: a proximidade entre o criador e a execução da peça, a exemplo do escritório no canteiro de obras, assim como conjugar o erudito e o popular. Ou seja, conciliar os opostos. “Agradar as duas extremidades é muito difícil”.

Assim como Lina, Paulo procura decantar as ideias para chegar à beleza da simplicidade. Embora o desenvolvimento de produtos ocupe a maior parte de seu tempo, hoje em dia Paulo não diferencia, em seu trabalho, a arquitetura do design, inclusive por dedicar-se a ambos. Para entender sua atuação, basta observar que em muitos de seus móveis é possível encontrar o traçado de uma edificação, com vãos livres e balanços, como se fossem maquetes. Seu radar também está voltado para a sustentabilidade, que inclui, entre outros, a racionalização no uso dos materiais.

“O design está aí para resolver os problemas de forma única, com o que se tem por perto”, observa. Paulo está atento ao que acontece no planeta, consciente de que tudo o que fazemos impacta no meio ambiente. A cadeira Atibaia, uma de suas peças preferidas, é bem fininha, com pouco gasto de madeira. “Foi o móvel mais difícil de fazer, pela complexidade de suas linhas”, confessa o designer/arquiteto, de semblante compenetrado, que se propõe a pensar no todo.

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o Cabideiro Hashi, inspirado em uma ida a um restaurante japonê com seus três filhos. “Ao perceber os hashis presos com elásticos, e os meninos ali unidos, senti que precisava materializar um dos sentimentos mais bonitos que existe: o amor entre irmãos”.
O tamanho da Poltrona Bombom é inversamente proporcional ao seu conforto. Pequena (60 x 60 x 60 cm), tem três pés para maior estabilidade; seu desenho faz alusão aos galhos das árvores, uma das marcas de Paulo Alves.
O design do Bar Guaimbê busca aludir às formas de uma árvore, com seus galhos entrelaçados. Dois tipos de sarrafos são usados, fixados uns aos outros, até formar a estrutura com a proporção e a resistência necessárias para suportar a peça.
O assento da Cadeira Atibaia é feito com uma fina placa de madeira compensada, curvada a frio, revestida com espuma e couro ou tecido. O espaldar em madeira de Catuaba, leve e resistente, é trabalhado com uma antiga técnica de desbaste, até chegar à menor espessura possível.
Da mesma família do bar ao lado, a Mesa Guaimbê busca contribuir, por meio do seu desenho, à conscientização ambiental, inclusive pela execução com matéria-prima ecologicamente correta: a madeira.
O jornalista Gilberto Dimenstein, em uma visita ao anterior estúdio de Paulo Alves, na Vila Madalena (São Paulo), admirou a primeira versão desta peça e logo se acomodou nela. “Naquele momento, não tive a menor dúvida: estava batizada minha mais nova criação, a Poltrona Gilberto”.
Multiúso e autoportante, a Estante Floresta também funciona como divisória. A estrutura vertical que suporta as prateleiras faz referência à floresta. Os cortes e as articulações para formar os galhos são inspirados na tradição dos artistas concretos brasileiros.
O Banco Pedra é o “protesto silencioso de uma peça, uma pedra no meio do caminho…Para lembrar que tudo que está à [nossa] volta também veio da natureza”, diz o designer.
A Poltrona Lina (Empório das Cadeiras) é uma homenagem à arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi, por quem Paulo Alves sente profunda admiração. Ele atuou em seu escritório, mas não chegou a encontrá-la profissionalmente, pois já estava enferma. Assim, participou da realização do primeiro inventário de seu trabalho e se deparou com desenhos e obras que ninguém jamais havia visto.
Homenagem ao rei do baião, o Sofá Gonzaga é robusto como o sertão, com linhas retas e enxutas, mas também suave e confortável. A base e os pés ganham madeira maciça, marca registrada do trabalho do designer.
A Banqueta Rango remete ao jeito informal de denominar uma refeição. Trata-se de uma peça pequena, que facilmente pode ser carregada de um lado para o outro, com um furo no meio para facilitar o transporte.
“Ficar à toa é estar à disposição da poesia”, dizia o poeta Manoel de Barros, cujas palavras inspiraram Paulo Alves a criar a Chaise Atoa. A peça é formada por seu característico emaranhado de madeiras, que remete diretamente aos galhos de uma árvore.
A ideia da Banqueta Descartes baseou-se na frase “penso, logo existo”, do filósofo René Descartes, com a qual o designer procurou ver além da matéria, como uma base bruta a ser esculpida. No caso, um bloco reconstituído com restos de madeira industrializada deu origem à transformação.
O Banco Leitão nasceu junto aos ribeirinhos da Cooperativa Mista da Floresta Nacional do Tapajós (COOMFLONA). As formas arredondadas da natureza e a intenção do designer em reduzir ao mínimo os resíduos o fez criar essa peça.

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