#Club&Casa Home – O lado menos conhecido do arquiteto, urbanista e político paraense Jaime Lerner; conheça mais este legado!
O eclético profissional também transitou pelo território do design de mobiliário, deixando para a posteridade diversos desenhos de peças que ainda serão lançadas; seus traços são limpos e proclamam a simplicidade.
Texto: Angela Villarrubia
Fotos: Daniel Katz (retrato), /divulgação
Jaime Lerner (1936-2021) teve uma conhecida trajetória como arquiteto, urbanista, engenheiro, professor e político. Ele foi prefeito de Curitiba três vezes (quando implantou novas ideias e modernizou a dinâmica da cidade) e governador do Paraná em duas ocasiões. Vale ressaltar que ainda foi eleito o segundo urbanista mais influente de todos os tempos pela revista norte-americana Planetizen, especializada no tema. Dentro de seu percurso, chama a atenção que também deixou um legado no campo do design de mobiliário. Inquieto, sempre tinha uma ideia na cabeça e uma caneta e papel ao alcance da mão.
Pode-se dizer que sua curiosidade pelo nicho começou ainda estudante, ao projetar a própria casa, nos anos de 1960, na qual incorporou móveis de concreto e madeira, como cama e chaise. Décadas depois, em 2019, em um resgate desse universo, surgiu o estúdio Jaime Lerner Design (JLD), uma empresa à parte de seu Jaime Lerner Arquitetos Associados (JLAA). Hoje em dia, ambos, além do instituto que leva seu nome, dividem o mesmo espaço, que curiosamente ocupa sua citada residência, na qual viveu até 2002 e onde até hoje está preservada sua história de vida.
A arquiteta e urbanista Samira Barakat, sua antiga estagiária no JLAA, é diretora/fundadora do JLD, esponsável por desenvolver e executar as peças que conseguiu catalogar – cuja maioria ainda deve ser lançada. Ela é sócia das duas filhas de Jaime, Ilana Lerner Hoffman e a Andrea Lerner, também à frente do instituto. A ideia é apresentar um ou dois móveis ao ano, a serem executados numerados e sob encomenda. “Ele me propôs a sociedade em relação aos mobiliários. Assim surgiu a ideia de tornar realidade os desenhos e maquetes que havíamos desenvolvido”, explica Samira. A diretora enfatiza que o intuito do JLD é resgatar esse lado menos conhecido do profissional e exibir ao mundo suas peças de linhas limpas e simples.
Jaime chegou a acompanhar a elaboração de alguns protótipos e a testá-los. Em uma gravação feita por Samira, ele explica que a concepção dos desenhos é “uma consequência do processo de criar sempre com a mesma visão simples. Gosto muito da expressão japonesa wabi-sabi, que quer dizer a beleza da simplicidade”. Ou, também, a beleza da imperfeição, neste conceito oriundo do Zen-Budismo. Na mesma conversa, ele também descartava a ideia da inspiração para o desenvolvimento de um produto. “O que existe são os dados. Se o cérebro está parado, é porque faltam dados para relacionar. É como se a cabeça pedisse: feed me, feed me, feed me”, dizia.
Ele concebeu uma série de móveis para serem executados com chapas metálicas, sem parafusos, meramente cortadas e dobradas. Sua realização, porém, nem sempre mostrou-se tão simples. É o caso desse banco de nome tão divertido, o Toinoinoin, que acabou demandando pontos de solda em suas extremidades. Quando a solução em estrutura metálica não era viável, também se voltou para a madeira. “Às vezes há limitações; mas sempre procuro a simplicidade”, observava. Ele também chegou
a fazer um móvel em fibra de vidro e outro em mármore. Com linhas puras, retas ou arredondadas, todos, em comum, têm desenhos esculturais. Em vida, ele apenas lançou oito peças.
“Trabalhar com o Jaime era muito prazeroso; era simples e estava aberto às ideias. A sua mesa ficava dentro da nossa sala [no escritório JLAA]; trabalhávamos no mesmo ambiente. Quando tinha um desenho de móvel novo, chegava e já me chamava, animado. Até em um guardanapo recebi um projeto, uma ideia que teve em um restaurante”, sorri Samira, ao relembrar o mestre.